terça-feira, 5 de julho de 2011

A arte de escrever, Lição 1: Esqueça o Manual de Redação

Posted by Angelo Bazzo on 18:47 | No comments


Olavo de Carvalho

Como alguns leitores têm-me pedido conselhos sobre a arte de escrever, decidi tirar da gaveta estas observações que redigi seis anos atrás para um curso que tinha o título, precisamente, de Ler e Escrever, e às quais nada tenho a acrescentar:
I.
A circular da redação de Veja, reproduzida no número de julho de 1992 do Unidade, jornal do Sindicato do jornalistas de São Paulo, constitui uma amostra do estado de inconsciência quase hipnótica em que vão mergulhando a cada dia, impelidos pela mecânica do ofício, os nossos melhores profissionais de imprensa.
O documento, uma lista de 27 regrinhas baixadas pela chefia com o propósito de "combater vícios de linguagem", é apresentado pelo jornal do Sindicato como um sinal de saúde: uma prova de que Veja, no auge da fama, não perdeu a cabeça e ainda é capaz de autocrítica.

Encarado no seu contexto mais próximo, como sinal de recuo sensato ante a tentação da embriaguez, ele pode ser de fato coisa boa. Mas, no contexto maior da evolução do jornalismo brasileiro ao longo das últimas décadas, as 27 regrinhas mudam de figura: tornam-se o sintoma alarmante da consolidação de um conjunto de cacoetes mentais como Lex maxima do bom jornalismo. Cacoetes, porque não chegam sequer a ser preconceitos. Preconceitos são crenças que, furtando-se ao exame consciente, dirigem a conduta, modelam a prática. Já estas regrinhas não se destinam seriamente a entrar em prática por serem de aplicação impossível, como demostrarei adiante, e sim apenas a ser alardeadas, oralmente e por escrito, como emblemas convencionais de boa conduta jornalística.

Não somente jornalística, na verdade. Consagradas pela repetição, máximas desse tipo acabam servir de critério para o julgamento de qualquer escrito, mesmo fora do jornalismo. Já vi muito guru de redação torcer o nariz ante Eça, Camilo, Euclides ou o Padre Vieira, porque usavam palavras vetadas no Manual interno: é como desprezar a Catedral de Chartres porque não cabe nas especificações do BNH.

Que baixem regras, vá lá. Mas deveriam ter ao menos o bom senso de admitir que especificações ditadas pela mera conveniência tecno-industrial não têm nenhum valor de critério estético, não constituem, em nenhum sentido, as regras de estilo, a não ser que se entenda por estilo a uniformidade coletiva, isto é, a falta de estilo. Servem para medir a adequação de um texto ao perfil mercadológico de um determinado produto editorial, e não para julgar sua qualidade literária, sua expressividade, sua exatidão, sua coerência, elegância e veracidade. Não servem nem mesmo para aquilatar do seu valor jornalístico, se tomado em sentido geral e fora dos cânones daquela publicação em particular. Como julgar por elas, digamos, o jornalismo de um Mauriac, de um Ortega y Gasset, de um Alain, ou, mais próximo de nós, de um Monteiro Lobato? Estilo é a adequação da linguagem de um sujeito às suas próprias necessidades expressivas, ou às exigências do assunto, e não a qualquer molde externo prévio, seja ele folgado ou estreito. É só metaforicamente, e forçando a barra, que a palavra "estilo" pode designar o sistema uniforme de trejeitos verbais imitado por todo um corpo de redatores; mais propriamente, esse sistema seria dito uma padronização da falta de estilo.

A padronização pode ser um mal inevitável. Mas para que exagerar, vendo nela um bem absoluto, o modelo mesmo de boa escrita? Que um chefete, cioso da carreira, chegue a introjetar tão profundamente o perfil do produto que lhe encomendam, ao ponto de mesmo nas horas de folga não ser capaz de formar frases fora das especificações dele sem sentir culpa e remorso, é coisa que compreendo; que ele deseje em seguida moldar a cabeça de seus subordinados segundo essas mesmas especificações, em prol da disciplina e da eficiência, é coisa que não só compreendo como também admito e até louvo. Mas que ele, enfim, num acesso de autoglorificação, se imagine transfigurado num mestre de português, literatura ou "estilo", é demais. Nenhum tecelão da R. José Paulino, ao ajustar suas máquinas para que as blusas saiam na medida, imagina estar fixando os padrões para o julgamento da elegância mundial.

Executivos de carreira metidos a teóricos de literatura são o flagelo das redações. Em nome de um perfil de produto, contingência comercial elevada a regra áurea do juízo estético, eles impõem padrões de gosto, lascam a caneta à vontade, divertem-se sadicamente brincando de Graciliano Ramos ante uma platéia de foquinhas assustados, os quais, nunca tendo lido o Graciliano de verdade, acreditam mesmo que ele seria capaz de escrever uma coisa mimosa como esta do manual de Veja: "Frase curta é bom e eu gosto. Com uma palavra só. Assim. Tente". Sim, tente: faça uma frescura diferente. Graciliano tinha o senso da continuidade melódica, jamais confundiria frases curtas com solavanquinhos histéricos. Nem proferiria máximas desta profundidade abissal: "Ninguém escreve direito se não ler", sentença que seria digna do Conselheiro Acácio, se não fosse, aliás, da autoria dele mesmo. Tomando normas de produção como critérios de gosto literário, essa gente está transformando o jornalismo naquilo que seus detratores desejariam que fosse: a espécie mais típica de subliteratura.
Normas de redação, se estatuídas, devem ser apresentadas, com toda a modéstia, como convenções práticas, neutras, nem melhores nem piores que quaisquer outras, e nunca como padrões de "bom gosto", "elegância", etc., que são valores de estética literária muito mais sutis do que aquilo que esse gênero de manuais está em condições de delimitar. Os manuais deveriam ater-se, o quanto possível, a aspectos exteriores e "materiais" da escrita, como ortografia, abreviaturas, padronização de nomes, evitando pontificar sobre estilo ou, pelo menos, opinando nisto com extremo cuidado e tão somente em nome da conveniência utilitária, não da estética. Nos casos em que fosse absolutamente indispensável opinar sobre estilo, o melhor seria permanecer num nível genérico e abstrato, sem descer a particularidades duvidosas, como a de vetar, individualizadamente, tais ou quais palavras ou expressões. Mesmo porque o mais elementar conhecimento da estilística mostra que não há palavras ou expressões que, em si e por si, sejam inelegantes; tudo depende do contexto, do tom, da engenhosidade maior ou menor com que sejam utilizadas. No devido lugar, até o execrando "outrossim" pode cair bem, apesar da famosa tirada de Graciliano Ramos, ao revisar um artigo da revista Cultura Política: "Outrossim é a p. q. p.". 

A amoldagem da cabeça humana a um conjunto de normas práticas, não contrabalançada pela consciência do caráter meramente convencional dessas normas, pode produzir nela uma verdadeira mutilação intelectual, tornando-a, a longo prazo, incapaz de compreender e apreciar o que quer que esteja fora do padrão costumeiro. A quase absoluta incapacidade para a leitura de textos mais abstratos, de filosofia e ciência, por exemplo, que observo em tantos de meus colegas, não resulta de nenhuma deficiência congênita, mas do costume adquirido de lidar com uma só das dimensões da linguagem, deixando atrofiar a sensibilidade para todas as demais: o hábito da escrita plana e rasa produz a leitura plana e rasa.

Um dos sinais mais patentes de uma inteligência alerta é a percepção de contradições. Aristóteles já observava que o senso lógico e o senso do ilógico são uma só e mesma coisa. Quando leio alguma coisa repleta de contradições ostensivas e sei que o autor não é imbecil nem está sofismando de propósito, só posso concluir que ao escrevê-la estava distraído, sonso ou bêbado. O documento de Veja certamente foi produzido num desses estados. Prometi e vou mostrar que é um amontoado de exigências impossíveis, mutuamente contraditórias. Antes, porém, desejo fazer a seguinte constatação psicológica: Como não é plausível que um chefe de redação caia em sono letárgico justamente na hora de emitir ordens importantes, o autor do documento (que aliás ignoro quem seja) mais provavelmente vive nesse estado em caráter permanente. Como, de outro lado, também não é verossímil que Veja tenha escolhido para chefe de redação um sujeito anormalmente mais distraído que os outros, suponho que seus colegas também não repararam nas contradições que vou assinalar (como não atinou nelas o redator de Unidade que transcreveu e elogiou o documento). Se é assim, então a circular de Veja é sinal de algum entorpecimento epidêmico da inteligência, que acomete a nossa categoria profissional.
Os exemplos que dou a seguir mostram o quanto o apego à norma rotineira, sedimentado por uma prática intensa e contínua, pode tornar um bom jornalista insensível às piores contradições e transformá-lo num confiante proclamador de incongruências.
II.
A circular de Veja é um conjunto de regras, mas é também ela mesma um texto. Essas regras, aplicadas à redação do mesmo texto, resultariam em suprimir pelo menos um terço dele. Vejam o primeiro parágrafo (regra 1):
Cortar todas as palavras supérfluas. Encher lingüiça é a pior praga de uma revista semanal de notícias.
Aplicada a mesma regra à redação da mesma frase, esta ficaria assim:
Cortar as palavras supérfluas. Encher lingüiça é a praga de uma revista de notícias.
Em obediência à regra, cortei as seguintes palavras supérfluas:
1o "todas": a expressão "as palavras supérfluas" é genérica; e como um gênero abrange necessariamente a totalidade das suas espécies, o pronome é redundante;
2o "a pior": porque praga é necessariamente coisa ruim.
3o "semanal": porque não se entende que a proibição de encher lingüiça deva ser revogada nas revistas mensais ou nos jornais diários.
Três palavras em duas linhas já não são lingüiça que basta? No entanto a frase não está mal escrita. A regra é que é excessiva. Já estava, aliás, infringida antes mesmo de ser escrita; porque na introdução do documento se diz:
Por mais que fotógrafos, ilustradores, paginadores e artistas gráficos reclamem...
Pois então: ilustrador não é artista gráfico? Corremos o risco de logo ver o nosso adversário de lingüiças distribuindo avisos "a todos os endocrinologistas, pediatras, geriatras e médicos", "a todos os homens, mulheres e seres humanos", etc.
Na mesma introdução, o indigitado elemento verbera os vícios de linguagem que
...estão conspurcando as nossas páginas com a mesma voracidade das heresias medievais...
Ô xente! Já se viu alguém "conspurcar com voracidade"? Com voracidade come-se, devora-se, engole-se, ingere-se, agarra-se. Conspurcar é fazer mancha, é deixar cair sujeira em cima, indica ou subentende um movimento para fora, do sujeito para um objeto, exatamente o inverso do movimento para dentro designado pela ingestão voraz.

A imagem torna-se ainda mais chocante quando vemos que, na regra 14, seu autor, com ar de primeiro-da-classe, emite (deveria eu dizer "expele vorazmente"?) um preceito para a redação de imagens: "Ao optar por uma linha de imagens, mantenha-se nela". Sim, por exemplo: comece com uma imagem gastronômica e complete-a com alguma coisa bem proctológica.
O mais extraordinário é que o supradito ainda menciona, como exemplos de imagens bem feitas, aquelas que ele mesmo usa na introdução. Poderia citar-se a si mesmo, aliás, como exemplo de modéstia, caso já não o tivesse feito ao admitir que não é Moisés e que suas regras não são as Tábuas da Lei, advertência que, se não lhe parecesse muito necessária, seria suprimida (de acordo com a regra 1).

Mas a infidelidade do autor a suas próprias regras não as invalida por completo, logicamente falando; só o desmoraliza. Para invalidá-las de vez, seria preciso uma contradição interna: entre regra e regra.
Eis um exemplo. A regra 5 adverte: "Cuidado com os advérbios", e recomenda suprimi-los, concluindo: "Por si só, o adjetivo qualifica". Lá adiante, porém, na regra 26, são recomendados como gurus, para o aprendizado da boa escrita, Machado de Assis e... Euclides da Cunha! Será que o chefe nunca leu Euclides? Pois este era pródigo em advérbios; a profusão deles foi um dos defeitos que os críticos de Os Sertões assinalaram com mais freqüência, obrigando os admiradores do autor a mobilizar-se em sua defesa (cf., por exemplo, Modesto de Abreu, Estilo e Personalidade de Euclides da Cunha, Rio Civilização Brasileira, 1963, esp. Pp. 148-152). Como farão os pobres aprendizes para mirar-se, ao mesmo tempo, no exemplo de Euclides e nas palavras do chefe? E o exemplo fornecido em testemunho da unanimidade dos advérbios é, no mínimo, perjuro:
Cuidado com os advérbios. "Fulano é um animal ferrado nas quatro patas", diz irritadamente Sicrano de Tal. A citação já mostra que Sicrano estava uma arara. Se não mostrasse, não seria um advérbio que melhoraria a situação.
Parece que o elemento não enxerga a menor diferença entre dizer uma coisa irritadamente, galhofeiramente, ironicamente, desdenhosamente, etc.
Uma das diferenças principais entre o oral e o escrito é que, neste último, as citações geralmente não dizem por si sós o tom, a ênfase, o gesto, a expressão facial com que as frases foram proferidas; e os advérbios existem justamente para, nesses casos, "melhorar a situação", evitando descrições fastidiosas (a não ser que Veja tenha se tornado multimídia, cada declaração vindo acompanhada do vídeo respectivo).
Além das contradições, há também informações erradas. A regra 6 estabelece:
Salvo engano, o português é uma das poucas línguas que não desdobra o tempo futuro. Aproveitem. "Collor mudará o ministério" é muito mais preciso e elegante do que "Collor vai mudar o ministério".
Aqui o chefe foi salvo pela ressalva. Pois trata-se, precisamente, de um engano. Celso Cunha, à p. 268 da sua Gramática do Português Contemporâneo (Belo Horizonte, Bernardo Álvares Editor, 1970), explica que o verbo auxiliar ir se emprega "com o infinitivo do verbo principal, para exprimir o firme propósito de executar a ação, ou a certeza de que ela será realizada num futuro próximo"; ao passo que o futuro simples admite, numa de suas acepções, a expressão da mera probabilidade. Caso, portanto, a mudança de ministério seja uma certeza firme, "Collor vai mudar o ministério" será muito mais preciso do que "Collor mudará o ministério". É um matiz lógico e temporal da maior importância. Também em matéria de palavras, a economia pode ser, às vezes, a base da porcaria.
O exemplo dado, aliás, entra também em contradição com a regra 5, que manda não abusar do "muito". Chamar de "muito mais preciso" algo que não é nem um pouco mais preciso, é ou não é abusar do "muito"? Mas a regra mesma de preferir o futuro simples contradiz a regra 20, que manda preferir, onde possível, a linguagem coloquial. Quem é que, no coloquial, diz "farei" em vez de "vou fazer"?

Quando à expressão "salvo engano", o autor a emprega ironicamente, pois crê não estar enganado e aliás veta, na regra 7, o uso dessa mesma expressão. Só que, como de fato ele estava enganado, a ironia se voltou contra o ironista. O humor involuntário é o resultado quase inevitável de escrever sem pensar.

Se estas regras tivessem sido calculadas maquiavelicamente com o propósito de desnortear foquinhas, para humilhá-los e torná-los dóceis, nada poderia detê-las. Vejam a regra 13:
Quanto mais concreta a imagem, melhor. Não misture coisas reais com abstrações. "Os tucanos alçaram vôo rumo à modernidade" mistura uma ave com um conceito.
A regra é clara. Mas como aplicá-la? Escrevendo, por exemplo, como o chefe em sua introdução, que "algumas fogueiras se fazem necessárias para manter a pureza estilística da revista"? Pureza estilística não é conceito abstrato? Fogo não arde materialmente? Se tucanos não podem alçar vôo senão rumo a concretíssimos poleiros, as chamas também não podem consumir solecismos, apenas o papel que os exibe. Se, queimando esta malfadada circular de Veja, eu pudesse suprimir o ilogismo de seu conteúdo, sem dúvida teria feito isso; mas, cioso de não misturar o abstrato e o concreto, abstive-me de recorrer ao ígneo expediente, e pus-me a redigir estas longas e tediosas observações.
Se elas parecem hostis, insolentes ou malévolas, digo que desconheço quem seja o redator-chefe de Veja e que nothing personal, just business. Que a bordoada atinja o erro, não a pessoa de seu autor. Este deve ser um profissional excelente, pelo menos tão bom quanto seus colegas, e por isto mesmo o erro é significativo e merecedor de correção pública, o que não se daria no caso de mera inépcia pessoal.

Também me ocorre um episódio. Ciro Franklin de Andrade, que foi um dos meus primeiros mestres no jornalismo, tinha um hábito exemplar. Quando um foquinha escrevia despropósitos, ele o chamava a um canto e lhe dava, discretamente, paternais explicações. Mas, se a coisa era obra de um chefe, de um profissional experiente, de um figurão do jornalismo, ele simplesmente recortava o trecho e o grudava no mural, para ensinança de aprendizes e castigo de instrutores. Cruel? Inesquecível.

22/11/98

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Deus acredita em você? ( Olavo de Carvalho )

Posted by Angelo Bazzo on 18:41 | No comments


Entrevista à Rádio Europa Livre (repórter Cristina Poienaru)
Bucareste, 21 de outubro de 1998

        — Você acredita em Deus?
        — Respondo como Henry Miller: o problema não é se eu acredito em Deus, mas se Deus acredita em mim.
        A realidade de Deus é para mim uma evidência invencível, na medida em que Deus se identifica com a infinitude metafísica que é o fundamento de toda realidade possível. As pessoas hoje em dia têm alguma dificuldade de compreender isso porque se deixaram enganar por falsas lógicas (como a de Georg Cantor, por exemplo) e acabaram por perder todo sentido da infinitude metafísica.
        A resposta de Miller significa que nossa vida é uma história escrita tanto por Deus quanto por nós mesmos, e que no enredo você corre o risco de escolher o papel de farsante, de mentiroso, de vigarista. É importante ter idéias verdadeiras, mas isso não é tudo. É preciso também viver no verdadeiro, isto é, não fingir que você sabe o que não sabe, nem que não sabe aquilo que sabe perfeitamente bem. Se você não é fiel a essas duas exigências, sua vida é uma mentira e o conteúdo pretensamente verdadeiro de seus pensamentos não é senão uma parte da farsa total - aquela parcela de verdade de que a mentira precisa para se tornar mais verossímil. Aí Deus não pode acreditar em você, porque, no fundo, você não existe.
        Você acha que é bom existir uma crença religiosa sem igreja?
       — Certamente. O alto clero mentiu muito para os fiéis no século XX e eles têm o direito de guardar uma certa distância da Igreja, certamente sem renegá-la, mas num espírito de espera prudente até que Deus se digne de lhes dar novas luzes. Para não dar senão um exemplo, um pouco antes do Concílio a Igreja de Roma assinou com as autoridades soviéticas o tristemente célebre Pacto de Metz, que a obrigava a abster-se de toda denúncia contra os regimes comunistas durante as sessões do Concílio. O pacto, que era secreto, foi ocultado da imprensa ocidental e não foi divulgado senão algum tempo depois, pelos jornais soviéticos. Se você leva em conta que até essa época os regimes comunistas já tinham matado quase uma centena de milhões de pessoas, das quais pelo menos uns trinta milhões de cristãos que não tinham cometido outro crime senão o de ser cristãos, você compreende a gravidade quase infinita desse acordo. Hoje em dia condena-se o Papa Pio XII por ter feito certo silêncio em torno da perseguição aos judeus na Alemanha, mas quem queira desculpá-lo pode ao menos alegar, para raciocinar por absurdo, que não eram ovelhas do seu rebanho, que ele não tinha a obrigação de dar o alarme se o lobo atacava apenas as ovelhas do seu vizinho. Mas o que se pode pensar do pastor que entrega ao lobo as ovelhas do seu próprio rebanho? Ante essa cumplicidade abominável, as críticas bem polidas e de ordem puramente teórica que a Igreja continuou a fazer ao marxismo não passam de hipocrisia. E como você haveria de querer que, depois de coisas desse gênero, milhões de fiéis não perdessem a confiança na Igreja e não escolhessem ser, ao menos a título provisório, cristãos sem Igreja? Foi o Vaticano que traiu a confiança deles, é a ele que cabe arrepender-se e lhes pedir perdão, em vez de fazer essas ridículas genuflexões rituais ante o mundo ateu, que se tornaram a moda oficial do dia.
        — O ecumenismo é possível?
        — No tempo em que os pensadores cristãos, muçulmanos e judeus se compreendiam uns aos outros, não se falava de ecumenismo porque ele era uma realidade vivente que não precisava de nome. Sto. Tomás e Sto. Alberto disputavam, decerto, com os judeus e muçulmanos, mas eles os compreendiam e respeitavam. Após o século XIV todos os laços espirituais e intelectuais com o Islam e o judaísmo se romperam e hoje em dia você não encontra senão raros especialistas que sejam capazes, por exemplo, de lhe dizer os nomes de três ou quatro pensadores muçulmanos modernos. O diálogo dos espíritos foi substituído pelos acordos de chancelarias, e hoje em dia o ecumenismo não é senão o disfarce de uma política globalizante que não tem nada de espiritual. No entanto o verdadeiro ecumenismo, que é dos espíritos, permanece sempre possível, e basta recordar o diálogo de Franz Rosenzweig e Eugen Rosenstock, ou as obras de Louis Massignon, para ter exemplos concretos dessa possibilidade. Numa escala bem menor, fiz de minha própria vida um exemplo desse gênero de ecumenismo, escrevendo por exemplo meu ensaio O Profeta da Paz, que é uma exegese simbólica da vida do Profeta Maomé à luz das tradições católica e judia. Creio que do ponto de vista da pura interioridade há sempre aproximações surpreendentes entre as diversas religiões, mas que isso não tem nada a ver com os espetáculos rituais ecumênicos transmitidos pela mídia. Falou-se muito do "Estado espetáculo", mas há também uma "religião espetáculo" que arrisca submergir toda espiritualidade sob uma chuva de falsas luzes.
       — Como você situa o conhecimento na Nova Ordem Mundial?
       — O conhecimento aí arrisca tornar-se uma coisa puramente material, como um arquivo de dados registrados por meios eletrônicos e transmitidos de computador a computador sem passar por uma consciência humana. Hoje em dia pode-se produzir teses acadêmicas apenas sintetizando dados previamente hierarquizados por computadores, sem que haja necessidade do menor esforço pessoal de intelecção. É a perfeição da "consciência coletiva" formada de uma multidão de cientistas sonâmbulos. A doutrina de Wittgenstein sobre um pensamento que se pensa a si mesmo sem necessidade de um sujeito humano torna-se assim uma profecia auto-realizável. Creio que Wittgenstein foi um gênio da inconsciência, um herói da covardia intelectual, o criador de uma doutrina que atinge os cumes de uma estupidez quase inimaginável. No mundo wittgensteiniano que nos aguarda, os livros não serão lidos senão por eles mesmos, demitindo os leitores humanos. O conhecimento se tornará uma figura de linguagem para designar os depósitos de dados que não serão conhecidos por ninguém, e a cultura se tornará um museu eletrônico jamais visitado. Certamente, haverá sempre alguns indivíduos que farão esforços para permanecer conscientes, e mesmo a elite dominante terá certa necessidade dos serviços deles. Mas não consigo nem imaginar os abismos de sofrimento que eles terão de suportar.
       — Você acredita que o século XXI será cristão?
       — Não. Bem ao contrário, ele é já em suas raízes o século do Anticristo, o século da opressão travestida em liberdade, o século em que as pessoas que matarem os santos acreditarão estar servindo a Deus. Já vemos formar-se uma espécie de religião administrada, um falso ecumenismo que une os senhores do dia em torno de um credo todo feito de lugares-comuns, uma mistura de banalidades moralistas, de oportunismo político e de um desejo infinito de agradar a mídia. É certo que Deus pode dispor de outro modo, mas tudo indica que estamos entrando numa era em que a impostura será a única forma de religião admitida, e na qual o homem que queira permanecer fiel ao Espírito não poderá buscá-lo senão no interior de sua alma solitária.
       — Qual é sua definição de cultura?
       — A cultura antigamente era a busca de objetivos superiores à simples sobrevivência material. Esta definição aplicava-se igualmente bem à Grécia e às pequenas culturas indígenas do Brasil. Mas hoje em dia o que se chama cultura se torna a criação ilimitada de novos apetites materiais que se multiplicam sem fim e que impedem as pessoas de ter outras ambições. Você vê, todos os debates ditos culturais da atualidade se desenvolvem em torno de assuntos ligados à vida corporal e à busca de bens de ordem material. De um lado, são desejos econômicos: os capitalistas proclamam que o único bem é a riqueza e os socialistas respondem que o único mal é a pobreza. De outro lado, são ambições de ordem sexual exaltadas até ao delírio: após os direitos dos homossexuais, proclama-se o direito à pedofilia, e assim por diante. A multiplicação das necessidades e das insatisfações materiais (até mesmo causadas pela própria abundância) não tem limite, uma vez que se tenha tomado essa direção.
        O mais irônico de tudo é que a tradição da cultura "politicamente engajada", que foi outrora um instrumento de libertação, se tornou um meio de escravização: ela tem por missão tornar os homens escravos de suas insatisfações menores, de modo a jamais permitir que olhem para o céu e aspirem a uma vida mais elevada. É preciso que cada um só pense naquilo que o incomoda no meio imediato, seja o desejo sexual insatisfeito, seja a fumaça dos cigarros que o perturba, seja a falta de dinheiro ou o ódio invejoso que ele volta contra pessoas que ele imagina mais felizes. As pessoas que se ocupam desse gênero de coisas permanecem para sempre crianças doentes, não chegam jamais à idade madura que é renúncia, perdão, tolerância, generosidade. A cultura tornou-se instrumento da puerilização universal. Não vejo meio de encontrar uma definição de cultura que se aplique por igual a isso e àquilo que outrora se chamava por esse nome. Não se trata de espécies do mesmo gênero, e portanto toda filosofia da cultura está hoje condenada a não ser senão história das culturas antigas ou legitimação ideológica desse novo fenômeno que não tem em comum com elas senão o nome.
       — A literatura sul-americana está em vias de se tornar a mais importante do mundo?
       — Talvez, mas isso é pouca coisa, numa época em que toda literatura se reduz a um ludismo imaginativo feito para o consumo ou à manipulação das massas pela nova administração da alma do mundo. O sucesso de Paulo Coelho e o Prêmio Nobel dado a esse ridículo Saramago ilustram com perfeição essas duas funções da literatura. Meus interesses passam a léguas de distância dessas futilidades, e estou pouco me lixando para a literatura, seja sul-americana, européia ou marciana.
       — Quais são as fraquezas da democracia?
       — Georges Bernanos já tinha dito: a democracia não é o contrário da ditadura; ela é a causa da ditadura. Basta ver como a noção de direitos humanos é hoje utilizada para impor às pessoas novas formas tirânicas de controle do comportamento, para perceber que Bernanos tinha razão. A democracia, para subsistir, tem de se apoiar sempre em alguma coisa totalmente diversa, num sistema de valores extrapolíticos ou suprapolíticos, como por exemplo o cristianismo. Mas a própria democracia tende a destruir esses valores e em seguida é deixada a si mesma e se transforma em tirania: tudo democratizar é tudo politizar, e quando não restam outros valores senão políticos, então é a ditadura, como a definia Carl Schmitt, a pura luta pelo poder, que não pode levar senão à vitória dos mais fortes. Hoje em dia, mesmo os debates ditos intelectuais se tornaram pura luta política, isto é, lobby, grupos de pressão, manipulação de verbas, intimidação dos inimigos, e assim por diante. É o resultado da democratização, e é indiscutivelmente ditadura. Para salvar a democracia seria preciso saber limitá-la, isto é, restringir os critérios democráticos ao território estritamente político e limitar o território da política, instituindo para além da política uma zona onde os debates não sejam decididos por meios políticos mas pela razão, pela sabedoria e pelo amor. Isto seria precisamente a função da cultura, mas a cultura já está quase completamente politizada e vamos a largos passos para a ditadura universal, sob o aplauso geral das massas. Como dizia uma velha canção americana, O when will they ever learn?
       — Qual a relação entre a literatura e o totalitarismo (dizem que o totalitarismo produz boa literatura)?
       — Não creio que o verdadeiro artista, para criar belas obras, necessite nem da liberdade política nem da opressão, nem de riqueza, nem de miséria. São estimulantes artificiais, exatamente como a cocaína. Tudo depende da livre vontade, a qual é ela mesma um tipo de criação artística preliminar à materialização das obras. As condições exteriores não têm um papel fixo e constante e o artista pode se adaptar às condições mais diversas. Veja: Thomas Mann e Jacob Wassermann não esperaram o nazismo para escrever seus mais belos romances, mas os produziram em plena democracia, ao passo que Dostoiévski criou toda a sua obra sob a opressão tzarista e Soljenitsin sob a ditadura comunista. As teorias que fazem a criação literária depender como um efeito mais ou menos passivo das condições exteriores são obra de gente incapaz, de professores medíocres que, por si mesmos, não criam nada e não compreendem a criação do que quer que seja. Infelizmente são essas pessoas que hoje em dia dão o tom dos estudos literários. 

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Por que é preciso defender Israel

Posted by Angelo Bazzo on 17:49 | 1 comment

A grande mídia ocidental tem contribuído para o agravamento da nova onda de perseguição aos judeus. De um lado, devido à formação recebida pela ideologia esquerdista, muitos setores da mídia ocidental têm grande simpatia pelos grupos radicais mulçumanos.
Atualmente em muitas partes do mundo, em círculos de intelectuais, da classe média e da grande mídia, existe um ambiente hostil ao povo judeu e também ao Estado de Israel. No dias atuais vemos renascer o espírito anti-semita e, por conseguinte, o discurso do "fora judeu" e da "destruição ao Estado de Israel".
O surpreendente desse renascimento é que ele não é de origem cristã. Desde o final do século XIX e principalmente na segunda metade do século XX e início do XXI, o cristianismo - e especialmente a Igreja Católica - tem tido uma política de não agressão ao povo judeu. O cristianismo tem desenvolvido políticas e ações de convivência e diálogo com o povo e o Estado judeu. Em grande medida os históricos conflitos entre cristãos e judeus foram superados ou profundamente amenizados. Além disso, o século XX viu a derrota de duas grandes ideologias, o nazismo e o socialismo, que, entre seus princípios, pregava o ódio e a extinção dos judeus.

Se os conflitos entre cristãos e judeus foram profundamente amenizados e o nazismo e o socialismo foram, no século XX, derrotados, então quem ou o que está promovendo a nova onda de espírito anti-semita? A nova onda de ódio aos judeus? A onda que deseja a destruição do Estado judeu? Não é intenção deste pequeno artigo dar respostas definitivas a essas perguntas inquietantes. No entanto, é possível realizar cinco reflexões.
Primeira, as novas gerações, nascidas a partir da década de 1970, não passaram pelos tormentos e sofrimentos da Segunda Guerra Mundial e, por conseguinte, pela perseguição realizada pelo Estado totalitário nazista e socialista. São gerações que vêem o povo judeu apenas como um povo distante e exótico e em grande medida desconhecem a sua história de perseguição e sofrimento.
Segunda, existe um pacto entre a elite da esquerda internacional e grupos fundamentalista mulçumanos, especialmente o Irã. Apesar de haver muitas divergências entre essas duas posturas culturais há pontos comuns entre ambas. Tanto a elite da esquerda internacional como grupos fundamentalista mulçumanos possuem em comum uma forte crítica ao capitalismo, visto como causador dos problemas sociais do mundo moderno, e um ódio ao cristianismo, visto como causa da decadência do Ocidente. O pacto entre a elite da esquerda internacional com grupos fundamentalista mulçumanos visa, simultaneamente, destruir o capitalismo e o cristianismo. Dentro desse pacto há um acordo que implicitamente coloca que, de um lado, os grupos mulçumanos radicais poderão atacar os judeus, inclusive perpetrando atos de terrorismo, e, do outro lado, a elite da esquerda internacional fará vista grosa a esses ataques e até mesmo podem defender os grupos mulçumanos radicais alegando, entre outras coisas, que fizeram esses ataques em nome dos direitos humanos e da democracia.
Além disso, atualmente está se desenvolvendo no mundo, especialmente na América Latina, o neo-socialismo ou Socialismo do Século XXI ou ainda Socialismo Bolivariano. O neo-socialismo tem, entre seus postulados, o princípio estratégico de que o mundo islâmico é fundamental para o triunfo da Revolução e, por conseguinte, a implantação de um regime político anticapitalista. Nessa perspectiva, o Islã é visto como uma fonte indispensável de militantes e de pressões políticas. O problema é que os grupos radicais mulçumanos não desejam aderir a Revolução neo-socialista de graça, sem receberem uma recompensa. Eles querem, entre outras coisas, o direito de destruir o Estado judeu. Por causa dessa reivindicação os países envolvidos com a Revolução Neo-socialista fazem vista grosa diante do terrorismo islâmico e até mesmo chegam a apoiar abertamente regimes teocráticos e totalitários, como é o caso do Irã. Na América Latina, a Venezuela, de Hugo Chávez, e outros países bolivarianos, como Bolívia e Argentina, fazem constantes declarações em apoio a grupos extremistas islâmicos. O Brasil, um dos países de maior projeção política no Terceiro Mundo, durante o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez preocupantes declarações de apoio ao Irã e a Síria, dois países que historicamente são profundamente hostis ao Estado judeu. Tudo isso cria um ambiente de legitimação ao extremismo islâmico e, ao mesmo tempo, de apreensão para o povo judeu.
Terceira: atualmente em muitas universidades e centros de formação superior no Ocidente é ministrado, em sua essência, um ensino pouco crítico e muito carregado por um discurso esquerdista no estilo "o mal é o capitalismo" e a "religião é o ópio do povo". Esse tipo de ensino tem causado sérios problemas de formação humana, um dos quais é o não reconhecimento da importância do povo e do Estado judeu na história do Ocidente. Vê-se o povo judeu como um povo agressor, imperialista e até mesmo cruel. Não há uma reflexão sobre o direito de existência desse povo e, por conseguinte, do seu Estado. Não se reflete sobre a visão autoritária existente entre setores dos mulçumanos, o fundamentalismo de alguns países, como o Irã e a Síria. Não se reflete sobre o desejo, aberto e declarado, de grupos radicais destruírem o Estado de Israel e, por conseguinte, matarem todos os cidadãos judeus que nele residem. Entre esses grupos é possível citar: a Irmandade Muçulmana, a Jihad Islâmica, o Taliban, a Al-Qaeda, o Hezbollah, o Hamas, o Jemaah Islamiyah, a Frente de Salvação Islâmica e o Gamaat Islamiya.
Ademais, nas universidades e centros de formação superior no Ocidente atualmente há um profundo espírito agressivo e até mesmo preconceituoso contra qualquer expressão religiosa. A religião é vista como causa da alienação e da opressão social. Criticar a religião é visto como um ato de vanguarda, de modernidade e de esclarecimento. Uma das consequências dessa postura é que o povo judeu, por ter uma fé religiosa viva e ativa, é visto como um povo supersticioso e causador da alienação social. Por isso, a nova onda de perseguição aos judeus é entendida, em muitos ambientes universitários, como uma forma de combater a religião.
Quarta, a grande mídia ocidental tem contribuído para o agravamento da nova onda de perseguição aos judeus. De um lado, devido à formação recebida pela ideologia esquerdista, muitos setores da mídia ocidental têm grande simpatia pelos grupos radicais mulçumanos. Esses grupos são vistos como questionadores da opressão social e do imperialismo ocidental, especialmente do imperialismo americano. Praticamente não são apresentados o caráter de intransigência sócio-religiosa e o desejo de implantar a sharia (a lei fundamentalista islâmica), em diversas partes do mundo. Em certa medida, reina na mídia um grande silencio sobre o imperialismo, as práticas culturais autoritárias e a falta de liberdade, reinantes no mundo mulçumano. Do outro lado, o Estado judeu é visto como um Estado imperialista, conquistador e até mesmo herdeiro do nazismo. A soma de todos esses fatores faz com que haja, na grande mídia, muito pouca reflexão tanto sobre a situação dos judeus no mundo como também o aberto desejo dos grupos radicais mulçumanos de literalmente destruírem esse povo.
Quinta, o secularismo que penetra, com muita força, dentro do cristianismo. Desde o século XVIII que os grupos religiosos ligados ao cristianismo vêm passando por um grande processo de secularização. É bom deixar claro que o cristianismo é a grande força religiosa e até mesmo política do Ocidente. À medida que o cristianismo se seculariza vai aderindo a posições políticas e culturais mais distantes de seu fundamento doutrinário. Um bom exemplo disso é a disputa entre judeus e mulçumanos. Historicamente os cristãos sempre estiveram contra o Islã. Por causa disso fizeram importantes críticas às posturas autoritárias oriundas do Islã. Esse fato, de alguma forma, sempre beneficiou o povo judeu. No entanto, nas últimas décadas temos visto mudanças nessa postura. Líderes cristãos, inspirados por um cristianismo secularizado, afirmam que os grupos radicais mulçumanos são apenas movimentos sociais que lutam pelos direitos humanos e, por conseguinte, passaram a ver o povo judeu como um povo opressor, um típico representante do imperialismo Cruzado ocidental. Um bom exemplo disso é a Teologia da Libertação (TL). Os líderes dessa expressão teológica, que se desenvolveu principalmente na América Latina, costumam fazer declarações defendendo abertamente grupos fundamentalistas islâmicos, usando, para tanto, o argumento de que a luta islâmica é democrática e visa à defesa da cidadania. Enquanto isso, o sofrimento e as demais questões que envolvem o povo judeu são ignorados.
Como é possível perceber, pelas breves reflexões que foram apresentadas, há muitos fatos que contribuem para o aumento do ódio aos judeus e, ao mesmo tempo, a defesa dos grupos radicais islâmicos.
Existe quase um senso comum que afirma e até mesmo grita, mesmo que inconscientemente, que a destruição do Estado de Israel e, por conseguinte, a morte ou então a expulsão da sua população, estimada em aproximadamente 7.500.000, será uma grande conquista da humanidade, uma vitória da democracia, da cidadania e dos direitos humanos. Com a destruição do Estado de Israel, os povos oprimidos, simbolizados pelos grupos radicais mulçumanos, terão uma possibilidade real de se libertarem de séculos de exploração ocidental.
Não há dúvida que os países centrais do Ocidente (Inglaterra, EUA, França, etc) dominaram, oprimiram e até mesmo destruíram vários povos ao redor do mundo, incluindo no Oriente Médio. É preciso combater a exploração e o colonialismo. Entretanto, engana-se quem pensa, mesmo que de forma inconsciente, que a destruição do Estado de Israel - incluindo a morte ou a expulsão de sua população - será o remédio para os males causados pela exploração, pelo colonialismo e o imperialismo.
Quando os grupos mulçumanos destruírem Israel e provavelmente massacrarem quase 100% de sua população, não estarão criando um mundo melhor, sem capitalismo, sem cristianismo, sem sionismo e outras questões. Pelo contrário, esse fato marcará o início do mais radical retrocesso vivido pela história. Séculos de avanço humanístico, rumo à democracia e aos direitos humanos, serão sumariamente enterrados. Tudo isso para que a sharia seja implantada a nível global. A esperança de muitos grupos (neo-socialismo, cristianismo secular, etc) é que a destruição do Estado de Israel, pelos grupos radicais islâmicos, acabe com a sede de sangue, morte e terror que esses grupos possuem. É preciso observar que estamos falando de uma destruição física e não meramente simbólica do Estado judeu. A destruição de todas as casas e demais edifícios existentes em Israel. O raciocínio dos grupos que defendem os radicais islâmicos é mais ou menos assim: "quando Israel for destruído, então teremos paz no mundo".
Enganam-se aqueles que pensam desta forma. Triste ilusão. O projeto dos grupos radicais mulçumanos é a conquista do Ocidente e a implantação da sharia em nível global. Esses grupos pouco se importam com a democracia, direitos humanos e coisas semelhantes. O que eles querem é impor ao mundo a Lei Islâmica. O problema é que, no momento, o grande empecilho da realização desse projeto é a existência, em pleno Oriente Médio, do Estado e do povo judeu. Por causa disso o raciocínio dos grupos radicais islâmicos é o seguinte: "primeiro destruímos o Estado de Israel e depois faremos a grande marcha rumo ao Ocidente. Para isso, precisamos momentaneamente do apoio de grupos ocidentais (neo-socialismo, cristianismo secular, etc) insatisfeitos com o próprio Ocidente".
Os grupos radicais islâmicos querem a ajuda de setores da sociedade ocidental para destruir Israel e depois "jogarem fora" esses mesmos grupos e, por conseguinte, fazer a grande marcha rumo à conquista do Ocidente.
Nesse triste contexto, Israel emerge como a "grande proteção" da sociedade e dos valores ocidentais. Por incrível que pareça, o que impede uma invasão militar, e até mesmo atos de terrorismo mais agressivos por parte de grupos radicais islâmicos, é a existência do Estado de Israel. Enquanto esses grupos estiveram ocupados lutando para massacrar o povo judeu, eles não terão condições de promover a grande marcha rumo ao Ocidente.
É por isso que ao invés de ficarmos criticando o Estado de Israel - e é preciso criticar os exageros cometidos por qualquer modelo de Estado - temos que nos empenhar para protegê-lo. A convivência pacífica entre judeus e mulçumanos e, por conseguinte, a paz no Oriente Médio e no Ocidente, só serão possíveis com um Estado judeu forte e com amplo apoio do Ocidente a esse Estado. Precisamos superar o discurso ideológico que vê Israel como um povo opressor e um Estado conquistador. É preciso reconhecer que Israel é a grande barreira que protege o Ocidente contra atos de terrorismo e destruição oriundos dos radicais islâmicos. Por isso, a defesa de Israel representa, simultaneamente, a defesa dos valores e dos povos do Ocidente. Quando Israel for destruído não haverá nada, absolutamente nada, entre o ódio islâmico e os países do Ocidente. Enquanto o Islã não se moderniza e aceita a democracia e a liberdade de expressão, Israel é a grande barreira protetora, o grande escudo. Temos que cuidar desse escudo. Temos que proteger os cidadãos israelenses ao redor do mundo e garantir que as pretensões dos grupos radicais de destruírem Israel jamais serão realizadas.




Ivanaldo Santos ( ivanaldosantos@yahoo.com.br )
fonte : http://www.midiasemmascara.org/artigos/conservadorismo/12076-por-que-e-preciso-defender-israel.html

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